Carlos Alberto Lopes

quarta-feira, junho 27

DIA DA ELEIÇÃO

Panfletos de propaganda eleitoral manchavam a cidade, transformando cada de suas principais avenidas em um tapete de papel picado.
Eram os chamados “santinhos”, de todas as cores , tamanhos e tendências, pois a câmara municipal ia renovar-se e o todo poderoso prefeito deixava a cadeira, coisa que levou um punhado de “bons cidadãos”, e outro punha de novo “não tão bons assim”, a concorrerem aos cargos vagos.
Era uma verdadeira “salada de frutas partidária”, pois nada menos que seiscentos possíveis candidatos lançaram-se na disputa, era um candidato para pouco mais de duzentos eleitores, quando isso.
Um por cento, ou mais da população, estava diretamente envolvida na eleição. Indiretamente, acabou se envolvendo o restante, e a cidade ganhou movimentação nunca visto!
Geraldo da Rosa, que tinha esse nome por estar casado com Rosa Adelaide, a eterna miss da cidade era o dono do Bar Sport, onde a oposição fazia o seu quartel general, e foi no bar do Geraldo da Rosa, que tudo começou.
Miguel Borboleta, o vendedor de bilhetes da federal, que também era “escrevinhador” do bicho, foi agredido fisicamente pela “turma da situação”, no comissão da praça, e baixou no Bar Sport, depois do acorrido, com enorme hematoma no rosto, além de vários arranhões pelo corpo, contando sua história, para quem tivesse paciência de escutar.
Geraldo da Rosa , um dos “cabeças” da oposição acabou por pegar as dores do borboleta e, juntando-se com uma meia dúzia, foi atrás dos agressores.
O encontro dos grupos, aconteceu em frente a igreja matriz, com o sol à pino.
Foi uma pancadaria dos diabos, pois até Maria da Foice se meteu, e acabou com fratura exposta na perna direita, e deu início a outra briga, pois sendo a Maria dona da “casa das tias”, reduto do baixo meretrício, o Álvaro da farmácia, única autoridade no ramo da saúde em toda a cidades negou a acudir a perna sangrenta de Maria da Foice, e a pancadaria recomeçou agora entre os amigos de Maria e os amigos do Álvaro, que acabou atendendo a ferida, pois o José das Dores deu fim na briga, com um tiro de doze, que disparou no forro da farmácia, ameaçando “estourar” a cabeça de Álvaro, se não atendessem Maria, como ela merecia e necessitava.
O Álvaro percebendo que o Zé falava sério, atendeu a Maria, mas o fez de tal má vontade, que a pobre nunca mais andou direito, ficando com a perna torta.
Quando a turma saiu da farmácia, para levar Maria para seu “palácio”, a coisa esquentou novamente.
A praça pegou fogo, pois as “mães de família” da cidade não gostaram nada de verem seus “santos maridos” defendendo Maria da Foice, e a coisa esquentou.
A confusão se generalizou, com marido apanhando de frigideira, pau de macarrão e cabo de guarda chuva.
Quando deu cinco horas, foi que o Geraldo da Rosa se lembrou que ainda não havia votado, e foi uma correria dos diabos até o local da votação, com “empurra - empurra” na fila e outras coisas, que nem e bom falar.
Dr. Marcolino, o juiz eleitoral, diante da confusão formada, deu ordem para se prolongar por meia hora a eleição, e ai o tumulto se generalizou, pois a situação armou o maior banzé contra a decisão de Dr. Marcolino.
A eleição ganhou novo aliado: o desrespeito a lei, pois Dr. Marcolino errou, e a situação errou também, sem falar no Geraldo da Rosa, que berrava que nem um desesperado , defendendo seu direito de votar fora da hora legal.
Seis horas da tarde, seu Lindolfo, chefe dos correios, trouxe um telegrama.
O Tribunal Eleitoral da capital do Estado, diante do ocorrido, anulava a eleição na cidade.
O resultado foi uma briga bem maior!
Foram três dias de confusão generalizada, com saldos negativos para todos os lados!
Dr. .Marcolino respondeu processo de crime eleitoral; Geraldo da Rosa foi preso, por desacato à autoridade, pois deu um murro no sargento Custódio; “vai de valsa”, bêbado enveterado da cidade, foi enternado com trauma alcóolico, por comemorar a vitória de ninguém; Miguel Borboleta teve que vender a casa , do alto do morro, para pagar o prêmio da milhar, pois na confusão, esqueceu de passar a banca o jogo que João das Coves mandou “escrevinhar”, e o João acertou na cabeça, no terceiro prêmio; Masculina Cavadão, filha da Maria da Foice, resolveu “tomar as dores” da mãe, e deu um surra “de criar bicho”, no Álvaro da farmácia.
Dona Masculina, do Açougue Pé de Vento, o único da cidade, não contente com a confusão que ajudou a armar, frente a matriz, pegou o marido desprevenido e rachou a cabeça do pobre, com uma perna de boi, levando o pobre para a UTI do hospital da cidade vizinha.
Na confusão, o vigário da matriz esqueceu de ir até o leito de morte do Analecto, que foi mordido pelo cachorro do Horácio e contraiu raiva.
O pobre acabou morrendo sem extrema-unção!
Maria das Dores funcionaria da coletoria estadual, foi pega sentada no colo do chefe e acabou perdendo o emprego, por atos imorais, tendo que pedir abrigo na casa de Maria da Foice, pois seu marido a expulsou de casa só com a roupa do corpo, causando forte comentário em toda cidade.
O Juarez, dono do posto de gasolina, com a confusão, resolveu fechar o posto mais cedo e ao voltar para casa, fora de hora, encontrou a Joana , sua mulher, só de calcinhas como Marcondes, na sala de estar, no maior carnaval.
Com o susto e a emoção, de se descobrir “corno” coisa que a cidade toda já sabia, menos ele, o Juarez caiu para traz mortinho da silva, com enfarte fulminante.
Como se não bastasse a Carlota, filha do Horácio, o dono do cachorro que mordeu o Analecto, recebeu a noticia de gravidez precoce.
Na altura de seus quinze anos, foi ela contar a grande novidade pro Zé, seu namorado. O rapaz, diante do fato consumado, perdeu as estribeiras e plantou a mão na Carlota, num surra que deu gosto, alegando que o filho não era seu. Carlota, em desespero, jogou-se na ribanceira do rio, sendo encontrada horas depois, com uma hemorragia dos diabos.
A cidade só voltou ao normal depois que o vigário, já recuperado do esquecimento da extrema-unção do Analecto, benzeu com água benta casa por casa.Só quem não quis a casa benzida foi dona Masculina, pois era filha de santo do terreiro de Pai Onofre, mas providenciou limpeza ao seu modo.

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