Carlos Alberto Lopes

quinta-feira, junho 28

NA RUA DA FORCA

O bairro da forca ficava distante...
_Longe pacas!
Como dizia Clementino, quando perdia o ônibus e tinha que voltar do serviço “solando asfalto “
La nunca existiu calçamento oficial, pois nem o bairro tinha oficialidade, visto que era um amontoado de casebres, feitos em mutirão, em um terreno de invasão, que o proprietário a tempos tenta retomar.
Clementino, antes de morar no bairro da forca, vivia mudando de ponte em ponte, com a mulher e os meninos, visto que era um dos milhares de “sem teto”, que enfeitam as cidades grandes.
Diz Clementino que sua vinda para o bairro da forca foi comum milagre, pois ao meio dia estava sendo despachado da ponte e, na mesma noite, conseguira dar à família um teto, que já era seu lar a uns bons quatro anos.
_Pra quem quer teto, para ter pão, mutirão é a solução!
Não cansa de repetir o bom Clementino, quando tem oportunidade.
Nasceram ele, a mulher Rosa, e os três meninos, na caatinga do nordeste da Bahia.
Vieram para o sul, procurando melhores dias.
Clementino, embora não escreva uma única palavra, é pedreiro de mão cheia, e não lhe falta vaga, nas construções da cidade grande mas, sem estudo, ganha salário mínimo. Daí, como vai pagar aluguel?
Rosa, para ajudar o marido, “pilota tanque” para quem pode pagar, e levanta outro salário, quando muito!
Com cinco bocas para sustentar, sobra pouco para o aluguel e Clementino nada mais pode fazer, a não ser procurar qualquer abrigo por família.
Primeiro, foram as pontes e viadutos.....
Agora, o barraco de zinco...
Quando subia a rua de casa, que não e nem uma rua, mas uma picada, cercada de matagal e pequenos casebres de madeirite, com coberturas de zinco com luzes de lampião à querosene, como a embelezar a escuridão, Clementino deparou com algo estranho: um papelzinho dourado, com umas listas e uns números, que Clementino não sabia ler, não sabia dizer também o que era, mas abaixou-se e pegou o papel, colocando-o no bolso da camisa.
Não se podia classificar Clementino de ignorante, pois embora analfabeto, tinha lá seus dotes de esperteza. Guardou, portanto, com muito cuidado, o papelote colorido.
Quando o despertador avisou que eram cinco da manhã, Clementino já levantou pronto, pois dormira vestido.
Apalpando o bolso da camisa, constatou que o pequeno papelote ainda estava lá.
_Hoje descubro o que é isso!
Pensou ele com seus botões, enquanto requentava o café, que Rosa fizera na noite anterior, e dele tomava um gole.
Fazia já algum tempo que o tal do sindicato tinha conquistado vale refeição, e isso tinha conseguido evitar que Rosa tivesse que levantar as três da manhã, para fazer a bóia do marido, como antigamente.
Clementino já conseguia dar a esposa algum sossego, e isso lhe fazia bem.
Após o beijo costumeiro na esposa e nos filhos, saiu o pai de família para o escuridão, em busca do sustento.
À hora do almoço, passou ele pôr uma casa lotérica.
Na porta , viu ele alguns bilhetes em exposição.
Será que aquilo é um tal destes bilhetes? Que o Joaquim da Carminha vive comprando ?Como será que funciona este treco?
Pensou Clementino, enquanto entrava na casa lotérica e pedia explicações para a funcionaria.
Após as explicações, Clementino enfiou a mão no bolso da camisa e, com muita dificuldade, foi conferir o tal papelote.
Naquela tarde, a casa 98, onde morava Rosa, os meninos e o pedreiro Clementino foi esvaziada.
A família voltou para o sertão da Bahia, onde Clementino montou casa, um pequeno bar com petiscos e colocou os meninos em boa escola.
Rosa nunca mais pilotou tanque, pois o bilhete, que Clementino encontrou na rua da forca, estava premiado pela loteria federal.

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