Carlos Alberto Lopes

sexta-feira, junho 29

TOSTÃO POR TOSTÃO

Nas Minas Gerais de outrora, quando o ouro era encontrado tão facilmente quanto hoje encontra moitas de capim, vivia um homem com fama de mendigo.
Passava o dia a porta da igreja, pedindo aos fieis um tostão para seu sustento. Nunca aceitava moeda ou nota superior a um tostão, podiam investir quando fosse, que o velhinho não aceitava.
Na hora da missa, entrava na nave e sentava-se no último banco, puxando ladainhas em latim, com perfeição no idioma.
Não perdia um enterro! Quando sabia da morte de alguém na cidade, lá ia ele com seu paletó já surrado pelo uso, doação de uma bondosa senhora, ajudar ao bondoso padre no encomendar da alma do finado.
Entendia os rituais da igreja como ninguém, e o próprio padre se admirava de sua memória, já que rezava em latim, sem um único erro de pronuncia.
Viveu na cidade longos anos, sem nunca faltar a uma única missa.
Certa manhã, ao abrir a igreja, o padre o encontrou morto na escadaria, com os pés voltados para a porta e a cabeça, no primeiro degrau.
Nos pés e nas mãos, trazia ele ferimentos profundos ainda sangrantes.
A policia foi chamada, e o corpo recolhido à Santa Casa. O delegado determinou que se revistasse os bolsos do morto, e foi encontrado além de alguns tostões, um bilhete.

“Meus bens, deixo como legado a igreja matriz desta bondosa cidade, que soube acolher-me e dar-me o que comer, vestir e beber, sem perguntas procurar fazer-me. No barraco, onde moro, sem nada pagar ao proprietário, será encontrado meu legado.”

No barraco, encontrado foi um cem número de barris, abarrotados de moedinhas de um tostão.
O montante, deu para o padre reformar a nave da matriz e construir um grande orfanato.
Coisas da fé.....

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